Um animal completamente diferente: como ocorre a domesticação
Como é possível que criaturas selvagens, como os lobos, possam ser ancestrais de lindos cães pomerânios? Para entender isso, precisamos primeiro saber como funcionam a genética e a evolução. As crias dos animais herdam os genes de seus pais e esses genes indicam quais características a cria terá. A variedade de genes e a possibilidade de mutação permite que as espécies animais mudem ou evoluam com o passar do tempo. Durante o processo de seleção natural, os animais com características que lhes permitam melhor sobrevivência serão os que mais provavelmente procriarão, até que, gradualmente, os únicos membros sobreviventes sejam aqueles que herdaram essas características.
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Se isso é verdade, então por que nunca vimos um panda de estimação ou alguém cavalgando uma zebra? Acontece que não podemos domesticar todos animais. O biólogo Jared Diamond escreve que os humanos realmente tiveram sucesso em domesticar apenas 14 espécies animais de um total de cerca de 148 [fonte: Diamond (em inglês)]. Ele acredita que para os humanos domesticarem uma espécie animal, ela normalmente deve atender aos alguns critérios.
- Dieta correta - crianças muito exigentes com a comida sempre complicam a vida de suas mães, então é possível imaginar as frustrações envolvidas em se manter um animal com paladar seletivo. Como muitos animais têm necessidades dietéticas específicas e os carnívoros precisam de alimentação mais cara, os humanos podem domesticar apenas animais que comem alimentos baratos e acessíveis.
- Alta velocidade de crescimento - a espécie deve crescer rapidamente para que pastores e fazendeiros tenham um retorno rápido do investimento na sua criação.
- Disposição amigável - animais naturalmente agressivos normalmente não gostam quando tentam capturá-los e não deixam que os humanos cuidem deles.
- Facilidade para procriar - se o animal se recusa a procriar sob as condições que os captores humanos oferecem, então é claro que o seu período sob controle humano será curto.
- Respeito a uma hierarquia social - quando em liberdade, se os animais formam estruturas sociais nas quais todos seguem um membro dominante, então os humanos podem se estabelecer como líderes da matilha.
- Resistência ao pânico - muitos animais enlouquecem quando são presos, cercados ou percebem uma ameaça. As vacas, por outro lado, permanecem razoavelmente complacentes e imperturbáveis, apesar dessas condições, por isso são mais fáceis de serem domesticadas.
Pandas e zebras são muito violentos e as tentativas humanas de domesticá-los foram frustradas. Porém, percebemos algumas exceções ao examinar a lista de Diamond. Por exemplo, o lobo (antepassado do cão) não é agressivo? E as histórias dos cães e gatos são exemplos únicos sobre os quais aprenderemos um pouco, mais adiante.
Na próxima página, veremos a longa história da domesticação.
História da domesticação
Algumas das primeiras evidências da humanidade (e da arte) são ligadas aos animais. Ilustrações em cavernas retratam bisões e veados. Obviamente, os animais tiveram uma parte importante na vida humana no decorrer de nossa história, tornando-se, assim, essenciais à nossa sobrevivência, à nossa história e até à nossa identidade. Parece natural que houvesse um desejo de incorporar e incluir animais em nossas vidas o tanto quanto a alimentação, a companhia, as vestimentas, o leite e outros itens obtidos através deles.
Com base em evidências arqueológicas como os fósseis, os historiadores aprenderam muito sobre o processo da domesticação dos animais pelo homem. A domesticação animal é parcialmente ligada à domesticação humana - ou a mudança dos humanos de caçadores-coletores para fazendeiros. Apesar dos caçadores-coletores já trabalharem com cães domesticados muito antes da domesticação humana, apenas mais tarde os fazendeiros viram os benefícios em manter o seu próprio gado. Conforme as pessoas se tornavam fazendeiros e começavam a se fixar em um local, a criação de gado lhes oferecia a conveniência da carne fresca, bem como esterco para fertilizar as colheitas. Diamond aponta que as civilizações que domesticaram animais (e plantas) conseqüentemente tiveram mais poder em mãos e foram capazes de espalhar suas culturas e linguagens [fonte: Diamond (em inglês)].
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Civilizações de todo o mundo antigo domesticaram animais por vários motivos, dependendo de quais animais viviam em suas regiões e do que os animais poderiam fornecer. Certos animais até alcançaram importância religiosa em várias civilizações, como no Antigo Egito (em inglês) e em Roma (em inglês). Abaixo está uma relação de locais onde os animais foram originalmente domesticados.
- Sudoeste da Ásia - esta área provavelmente incluiu alguns dos primeiros cães, ovelhas, bodes e porcos domesticados.
- Ásia Central - na Ásia Central, as pessoas usavam camelos bactrianos para levar suas cargas.
- Arábia - como o nome sugere, o camelo árabe (um camelídeo de apenas uma corcova, também conhecido como dromedário) teve sua origem aqui.
- China - a China foi onde ocorreu o início da domesticação do búfalo d'água, dos porcos e dos cães.
- Ucrânia - o povo da região hoje conhecida como Ucrânia domesticou os cavalos selvagens tarpan, que os historiadores acreditam ser os ancestrais dos cavalos modernos [fonte: Rudik (em inglês)].
- Egito - o burro foi muito útil aqui, pois ele pode trabalhar duro sem precisar de muita água e alimento.
- América do Sul - a lhama domesticada e a alpaca vieram deste continente. Os historiadores acreditam que os sul-americanos salvaram essas espécies à beira da extinção com a domesticação [fonte: History World (em inglês)].
Baseado naquilo que os especialistas aprenderam sobre o progresso da domesticação animal, quanto mais domesticada uma espécie se torna, mais ela muda. Por exemplo, o cérebro dos animais domesticados pode diminuir e suas habilidades sensoriais podem se tornar menos exatas [fonte: Diamond (em inglês)]. Supõe-se que essas mudanças ocorram porque o animal não precisa do mesmo nível de inteligência ou de sentidos de visão e audição apurados para sobreviver domesticado. Outras mudanças comuns incluem orelhas moles, pêlos cacheados e, principalmente, mudanças no tamanho do animal e nos seus hábitos de acasalamento. Animais domesticados têm maior possibilidade de se acasalar em qualquer época do ano, e não em determinadas temporadas, como fazem em ambiente selvagem [fonte: Encyclopedia Britannica]. Essas e outras mudanças costumam fazer com que os animais domesticados pareçam drasticamente diferentes de seus ancestrais selvagens.
Os próprios humanos passaram por mudanças significativas como resultado da domesticação animal. Por exemplo, o leite alterou o nosso sistema digestivo. Antes da domesticação animal, as pessoas tinham uma intolerância natural à lactose. Hoje em dia, não é sempre assim. Quando os humanos começaram a criar gado, começaram a beber mais leite e isso adaptou o nosso sistema digestivo para aceitar o leite no decorrer de nossas vidas.
A seguir, veremos como a lendária evolução do cão pode ter criado o mais antigo e fiel companheiro animal da humanidade.
O início de uma bela amizade: domesticação canina
Como um lobo pôde se transformar, de uma fera selvagem e desconfiada, em um animal fofo e obediente pode parecer espantoso ou mesmo inacreditável. Mas os cientistas usaram evidências do DNA (em inglês) para mostrar como provavelmente o cão descende do lobo cinzento.
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Apesar dos mais antigos fósseis de um cão domesticado serem de uma sepultura de cães de 14 mil anos, a evidência do DNA sugere que os cães se separaram dos lobos muito antes disso (algumas estimativas vão de 15 mil a mais de 100 mil anos atrás) [fonte: Wade (em inglês)]. Independente disso, os historiadores concordam que os humanos domesticaram os cães antes de qualquer outro animal, o que torna o cão o mais antigo amigo do homem, se não o melhor.
Os cientistas apenas supõem como os cães e os humanos iniciaram sua amizade. Uma teoria sugere que os humanos começaram a pegar filhotes de lobos e, em determinado momento, conseguiram domá-los. Outra teoria propõe que os lobos mais mansos não tinham medo de andar em meio aos locais onde os humanos jogavam lixo para procurar comida. Como eles se alimentavam dessa maneira, esses lobos mais mansos tinham maiores possibilidades de evoluir para cachorros devido à seleção natural [fonte: NOVA (em inglês)].
Como os lobos agem em matilhas, foi fácil para os humanos tomar o lugar de "lobo mais importante". Assim, os animais rapidamente aprenderam a obedecer. Como os lobos mais mansos tinham mais tendência a ficar juntos com os humanos, a evolução naturalmente (ou os humanos, intencionalmente) se encarregou de criar lobos cada vez mais mansos, até que finalmente chegamos ao cão. Com uma combinação da engenhosidade humana com a velocidade e a ferocidade do lobo, essa dupla partilhava as recompensas de suas presas capturadas em uma relação mutuamente benéfica.
Porém, essa evolução do lobo para o cão ainda mantém a pergunta: Por que os cães têm aparência e atitudes tão diferentes das dos lobos? Um geneticista russo do século 20, Dmitri Belyaev, conseguiu resolver parte do mistério que envolve o fato de o lobo ter passado por uma transformação tão drástica. Em suas tentativas de criar raposas domadas, Belyaev percebeu que, após várias gerações de procriação seletiva, não apenas as raposas ficaram mais mansas (como ele esperava), mas também começaram a assumir algumas características semelhantes às dos cães.
Apesar da evidência do DNA apontar que os lobos, e não as raposas, são os ancestrais dos cães, esse experimento trouxe à tona surpreendentes revelações a respeito de como o comportamento e a aparência podem ter transformado lobos em cães [fonte: NOVA (em inglês)]. Conforme as raposas ficavam mais mansas, elas também desenvolviam orelhas moles, focinhos curtos, pelagens manchadas, caudas erguidas e até mesmo uma tendência a latir. Surpreendentemente, muitas dessas características são ausentes em raposas selvagens, bem como em lobos, portanto, nem a seleção artificial nem a natural poderiam intencionalmente favorecê-las. Em vez disso, os genes responsáveis pela mansidão devem ter também um código para coisas como orelhas moles.
As descobertas de Belyaev também ajudam a compreender como as diferentes raças de cães acabaram tendo aparências tão diferentes entre si, enquanto os lobos têm aparências relativamente uniformes. A mansidão trouxe uma variação jamais vista nos lobos selvagens e os humanos abraçaram essa variação. Cães pequenos e fofinhos são melhores para esquentar o seu colo, enquanto cães maiores e mais velozes são melhores para a caça. Em vez de escolher um ou o outro, os humanos criaram diferentes cães para diferentes propósitos. No século 19, tivemos um crescimento no número de raças de cães, juntamente com o advento das exposições de cães (em inglês).
Dias de cão no Egito No antigo Egito (em inglês), os cães eram animais amados e reverenciados. Algumas evidências provam que apenas a realeza podia ter cães de raça pura. Alguns desses cães sortudos usavam colares com jóias e desfrutavam do conforto dos servos pessoais. Os arqueólogos já encontraram cães mumificados nas tumbas de seus donos. [fonte: Encyclopedia Btritannica] |
Agora que já aprendemos sobre a domesticação dos cães, vamos ver como os gatos encontraram o seu cantinho em nossos corações e lares.
A curiosidade domou o gato: domesticação felina
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Apesar de as evidências mostrarem que os gatos provavelmente não evoluíram dos grandes felinos modernos, como os leões e os tigres, os arqueólogos não podem usar os formatos dos ossos antigos e os cientistas não podem investigar o DNA (em inglês) para distinguir entre os pequenos felinos selvagens de antigamente e os felinos domesticados modernos. Porém, algumas evidências levam os cientistas a acreditar que o gato doméstico moderno (Felus catus) pode ter descendido de um felino europeu (Felis silvestris) enquanto o gato selvagem africano (Felis lybica), de felinos que ainda existem em ambiente selvagem.
Algumas pistas fornecem evidências convincentes a respeito do início da domesticação felina. Por exemplo, escavações de um campo de sepulturas de 9.500 anos revelaram os restos de um humano enterrados junto a um gato. Partindo dessa evidência, os historiadores acreditam que é bem provável que os humanos dessa época já estivessem bastante apegados a seus amigos felinos. A proximidade entre o humano e o gato indica um enterro intencional e que os gatos possuíam um papel importante naquela cultura.
Mesmo que seja difícil saber quando os gatos se tornaram domesticados, é um pouco mais fácil especular o motivo de os humanos os adotarem. Qualquer criança que já tenha visto o desenho animado "Tom & Jerry" está familiarizada com o notório desafeto dos gatos pelos ratos. Normalmente, os gatos têm mais sucesso em capturar, ou pelo menos assustar sua presa roedora, do que Tom jamais teve. É exatamente essa habilidade que tornou os gatos uma companhia tão interessante para os humanos. Negociando o controle das pestes em troca de alimentação e abrigo, os gatos acabaram superando sua aversão à domesticação.
Os gatos provavelmente não se adaptaram à domesticação tão facilmente quanto os lobos/cães, pois não possuem hierarquia social que permita aos humanos assumir o papel de "líder". Os lobos viajam em matilhas, seguindo um lobo com posto mais alto, mas o gato é um animal solitário e orgulhoso que não aceita ordens de ninguém. Apesar de o gato doméstico ser uma espécie separada, sua independência e o fato da domesticação não ter lhe causado mudanças drásticas, permitiram que gatos selvagens sobrevivessem muito bem por conta própria mesmo se criados no conforto de um lar humano. Portanto, embora não sejam conhecidos por receber ordens de humanos, talvez os gatos permaneçam por perto porque gostam de receber comida deles.
O Egito e os gatos Assim como os cães, os gatos eram muito importantes para os antigos egípcios (em inglês). Por volta de 1700 a.C., os egípcios concediam aos gatos um status semelhante ao divino e os retratavam em estátuas e pinturas nas paredes [fonte: Bard]. Os egípcios também costumavam mumificar seus gatos. Inspeções de múmias felinas revelam que os egípcios provavelmente dedicavam tanto cuidado e reverência à essa prática de mumificação quanto dedicavam à mumificação dos humanos [fonte: Owen (em inglês)]. |
Embora fosse muito bom ter companheiros para caça e para o controle de pestes, os humanos precisavam confiar em mais do que apenas cães e gatos para evoluir a sua civilização. A seguir, veremos como os outros animais auxiliaram o progresso humano nas áreas do transporte e da agricultura.
A domesticação das vacas e de outros tipos de gado
Em primeiro lugar, era óbvio que o gado oferecia aos primeiros fazendeiros um suprimento útil de carne e leite frescos. Em certo momento, as pessoas descobriram que os animais também poderiam ajudar na agricultura, bem como fornecer fertilizante e novos materiais para vestimenta. Abaixo temos uma lista dos principais tipos de animais criados como gado que tiveram funções importantes na história da humanidade.
Philippe de Champaigne/ The Bridgeman Art Library/Getty Images
- Vacas - o auroque, uma espécie extinta, foi o ancestral do gado bovino moderno. Em lugares como o Oriente Médio e a África, as pessoas começaram a domesticar os auroques. Mais tarde, esses animais evoluíram para o gado que conhecemos atualmente. Talvez sua contribuição mais importante tenha sido o seu uso na organização do terreno, algo que ampliou de forma significativa o terreno disponível para cultivo e, como conseqüência, o rendimento das colheitas.
- Bois - de certa forma, a domesticação do bois (cerca de 7.000 a.C.) chega a superar a importância da invenção da roda para o início da civilização humana, pois sem a enorme força dos bois para puxar cargas pesadas sobre essas rodas, a vida seria significativamente mais difícil.
- Ovelhas - junto aos cães, as ovelhas são talvez o mais antigo animal domesticado. Para tirar vantagem da lã, criavam-se ovelhas selvagens para que elas perdessem a sua superfície de pêlos mais emaranhados e fosse possível tosquiar a sua lã (pêlos mais curtos e menos superficiais). Ficou claro que pastorear esses animais era apenas uma questão de assumir o papel de líder em sua hierarquia social. Apesar da domesticação ter ocorrido no século 9 a.C., a tecelagem de lã não deve ter aparecido antes de 4000 a.C. [fonte: Tomkins (em inglês)].
- Cabras - as cabras não são seletivas com a alimentação e isso as torna úteis por sua habilidade em sobreviver apesar de viverem em terreno seco e estéril. Pessoas pobres que vivem em regiões com poucos recursos podem usar as cabras para conseguir carne, leite e materiais para tecidos [Sherman (em inglês)].
- Porcos - a partir da domesticação do javali selvagem, os humanos desenvolveram o porco. Como eles têm um apetite por despejos, os porcos aprenderam a comer das pilhas de lixo dos humanos, permitindo a existência de um sistema primitivo de reciclagem de lixo. E nós, por nossa vez, comemos a carne do porco.
A seguir, daremos uma olhada em vários outros animais que forneceram algo de grande importância: o transporte por longas distâncias e a capacidade para carregar grandes cargas.
A domesticação dos animais de transporte
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- Cavalos - testes no solo revelaram resíduos de altas concentrações de esterco de cavalo próximas a antigos povoados, o que serve de evidência à presença de cavalos domesticados cerca de 5.600 anos atrás [fonte: Lovett (em inglês)]. Além disso, evidências de DNA sugerem que os cavalos domesticados de hoje em dia têm origem em diversos territórios e em várias diferentes manadas selvagens [fonte: Briggs (em inglês)]. Apesar de os humanos provavelmente terem usado o gado para obter carne e leite, os cavalos se acostumaram a puxar carroças e a carregar os humanos nas costas. Com os cavalos, os humanos podiam percorrer longas distâncias e viajar rapidamente. Nenhum outro animal contribuiu tanto para o transporte humano. Em certo momento, os antigos romanos (em inglês) chegaram a usá-los em corridas. Os cavalos primitivos viveram e foram extintos na América do Norte, mas foram reintroduzidos pelos espanhóis cerca de 9.000 anos depois.
- Burros - os egípcios domaram os burros quase na mesma época em que os cavalos foram domesticados. Apesar de eles terem perdido o prestígio daquela época (como vemos pelo uso pejorativo do termo "burro"), os antigos egípcios os reverenciavam. Os arqueólogos descobriram alguns burros que eram distinguidos por rituais fúnebres especiais, o que sugere que os egípcios os considerassem animais muito importantes e respeitáveis [fonte: Chang (em inglês)].
- Camelos - como os camelos árabes e bactrianos podiam carregar fardos pesados e se viravam bem com pouca água, o povo de áreas desérticas se beneficiou muito da domesticação desses animais. De fato, apesar de as pessoas costumarem associar os camelos a áreas quentes, o camelo bactriano tinha uma pelagem grossa que o permitia suportar até mesmo climas gélidos. Apesar de primeiramente o camelo domesticado ter sido usado apenas para extrair os pêlos, a carne e o leite, com o tempo, as pessoas começaram a usá-lo para transportar cargas pesadas por longas distâncias. Quando essa prática foi iniciada, ela substituiu completamente o uso da roda como ferramenta de transporte por um grande período de tempo em certas regiões [fonte: Meri (em inglês)].
Apesar de o gado e os animais de carga terem fornecido a força de trabalho necessária e terem ajudado os humanos a formar a civilização, não podemos esquecer dos animais pequeninos. A seguir, veremos como alguns roedores, insetos e outros animais ofereceram suas próprias contribuições por meio da domesticação.
Os pássaros, as abelhas e outros animais
As pessoas foram capazes de domesticar uma variedade de outros animais que cuidam de várias outras funções para nós.
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- Galinhas e galos - primeiramente domesticados para as "rinhas" (brigas de galo). Nessa fase, as galinhas não produziam ovos com freqüência. Isso passou a acontecer depois que as pessoas começaram a domesticá-las especialmente para esse fim [fonte: Encyclopedia Britannica].
- Perus - os índios americanos da região que hoje é o México provavelmente foram os primeiros a domesticar o peru, e a Europa desconhecia o animal até o século 16. Por ser um dos poucos animais nativos domesticados da América, faz sentido que os americanos comemorem o Dia de ação de graças comendo essa ave.
- Abelhas - antes do século 19, as pessoas dependiam do mel como fonte principal de doçura. Elas conseguiam esse mel em colméias e não é preciso dizer que se arriscavam a levar várias ferroadas para consegui-lo. Em certo momento, as pessoas foram capazes de domesticar as abelhas levando-as a habitar colméias rudimentares feitas pelo homem. No século 19, Lorenzo Lorraine Langstroth aperfeiçoou significativamente a estrutura da colméia para permitir métodos mais eficientes para a produção do mel.
- Bichos-da-seda - os bichos-da-seda produzem casulos para seus ovos, que os humanos usam para fazer a seda. Os historiadores acreditam que a produção de seda teve início na China, por volta de 3.000 a.C., revelando que as pessoas já deviam ter começado a domesticar o bicho-da-seda por volta dessa época.
- Coelhos - por volta do primeiro século a.C, as pessoas usavam furões para expulsar os coelhos de suas tocas no chão. Mais tarde, monges franceses medievais domesticaram os coelhos e os criaram para alimentação.
- Hamsters - a origem dos hamsters domesticados data de 1930, quando uma mãe e uma ninhada de filhotes de hamsters foram pegos na Síria. Inicialmente, as pessoas reconheceram o seu valor em experimentos científicos e mais tarde como animais de estimação. Se você conhece a velocidade de reprodução dos hamsters, não vai ficar surpreso de saber que toda a população de hamsters domesticados descende dessa única família [fonte: History World (em inglês)].
Alguns dos animais incluídos nessa lista têm a sua "domesticação" questionada. Autoridades no assunto, como Jared Diamond, usam uma definição rígida de domesticação, que inclui apenas os animais cuja maquiagem genética foi alterada do tempo de seus ancestrais para permitir que os humanos manipulassem sua procriação e dieta. Ainda podemos domar animais individuais para fazer o que desejamos, mas sem alterar sua natureza. Por exemplo, apesar de Aníbal (em inglês) e sua famosa travessia dos Alpes sobre elefantes, Diamond diz que os elefantes podem ser chamados apenas de domados, pois eles nunca formaram uma nova espécie por meio do processo de domesticação.
Apesar disso, muitas fontes, como a Encyclopedia Britannica, usam uma definição ampla do termo domesticação para incluir animais como os que discutimos nesta página.
Para mais informações sobre animais, explore os links na próxima página.
A fabricação de ferramentas de pedra, o domínio do fogo e a aquisição da linguagem foram conquistas que levaram milhões de anos. Graças a elas, o homem passou a defender-se dos outros animais ou caçá-los, cozinhar seus alimentos ou aquecer-se ao fogo e transmitir o conhecimento acumulado de geração para geração.Os primeiros representantes da nossa espécie, há mais ou menos 200 mil anos, viviam deslocando-se constantemente de um lugar para o outro, onde houvesse frutos e sementes para a coleta de animais para caçar.
Mas, de cerca de 10.000 anos para cá, sua vida iria mudar num ritmo muito intenso, comparada com o longo período anterior. Nessa época, o homem aprendia a cultivar os vegetais e a domesticar animais. Ele deixava de ser coletor e caçador para ser agricultor e pastor.
O desenvolvimento de suas novas atividades aumentava seu controle sobre a natureza e ele já se fixava em determinados lugares, construindo sua habitação, formando as vilas e, mais tarde, as cidades.
Observando novas árvores brotando do solo onde caíam frutos ou nos lugares onde jogava restos de frutos, o homem percebeu que podia cultivar os vegetais. Ao mesmo tempo, começava a domesticar alguns animais, que forneciam a ele produtos diversos (carne, leite, ovos, lã, seda, cera, etc.), prestavam serviços (transporte, tração, correio, etc.), serviam como animais de estimação, de guarda ou mesmo para fins ornamentais.
Hoje vários animais domesticados vivem ao lado do homem, sendo úteis a ele. O cão, por exemplo, "o melhor amigo do homem", desde a Antiguidade era utilizado como mensageiro em tempos de guerra. Sua carne é apreciada pelos chineses e javaneses, e foi muitas vezes utilizado para experimentos em vários ramos da ciência. Foi até o primeiro ser vivo a ser colocado em órbita na Terra, num satélite artificial.
Segundo algumas evidências arqueológicas, é o carneiro, o animal de domesticação mais antiga.